Senhor Presidente da Câmara, senhora Presidente da Assembleia Municipal, caros membros do executivo, representantes das coletividades locais, comunicação social, Provedor do Munícipe e colegas deputados a todos e a todas os presentes um muito bom dia. Muito obrigado por estarem aqui e fazerem parte de uma celebração de um dia tão importante para todos os portugueses.
Não vou perder muito tempo com protocolos porque o 25 de abril fugiu da regra é do povo e a sua celebração, também deve ser popular e não deve estar fechada em auditórios.Primeiro que tudo é uma honra estar aqui.
Pessoalmente, foi o meu pai que me ensinou as primeiras letras acerca do 25 de abril. Consoantes e vogais de esperança que jamais esqueci e que fazem parte da minha vida até hoje. É por isso que começo por falar dele e do tempo que deu à pátria no Ultramar, como tantos da sua geração.
Vivemos num tempo que nada tem a ver com o seu. De direitos e liberdades. Que por isso muitos tomam como garantido convictos, erradamente, de que sempre foi assim e que se conseguiu sem esforço, risco e sacrifício. Não é verdade. E se não quisermos recuar lembrem-se que na atualidade falamos até na perda de direitos e na sua reposição como um esforço urgente a levar a cabo pelo país.
O 25 de abril é por isso, para mim, emocionante. Com ele aprendi, entre outras coisas, que os outros mandam o que nós deixarmos e até quando deixarmos e que tudo é possível, em especial a mudança.A última vez que estive com Otelo Saraiva de Carvalho na SPA numa sala com mais intervenientes diretos no 25 de abril com pudor não lhe agradeci tudo o que fez por nós, portugueses. Arrependo-me.
E é por isso que a primeira coisa que vou fazer aqui é aproveitar a oportunidade para agradecer, publicamente, a todos os que o fizeram.
Porque não acredito que a liberdade é demais como muitos que sempre viveram tendo-a garantida acham quando não concordam (porque o podem fazer) com alguma coisa. Ou, os outros cuja memória seletiva os leva a considerar que abdicar da liberdade é solução (supostamente para “pôr ordem na casa”), não percebendo o evidente retrocesso e as consequências negativas dessa opção.
Muito obrigado por terem conquistado a liberdade para todos nós.O 25 de abril faz tanto parte das nossas vidas que houve uma pergunta que com mais ou menos graça, mais ou menos boas intenções, mais ou menos saudosismo, mais ou menos orgulho passou a fazer parte do nosso quotidiano coletivo de memórias: Onde estavas quando foi o 25 de abril?
Não temos dúvidas da sua importância. Interna, antes de mais. Lembremos que descolonizar, democratizar e desenvolver integravam o programa do Movimento da Forças Armadas. O 25 de abril foi uma revolução política, social e dos costumes.
A sua relevância vai sendo revisitada frequentemente, naquilo que é o seu ideário e até metodologias. Por exemplo, na luta das propinas na década de 90 e nas ainda próximas mobilizações na recente crise neoliberal que tantas marcas deixou entre nós. Os seus slogans e cantigas não perderam atualidade e é uma felicidade poder recuperar a sua memória em períodos em que alguns a única coisa que se lembram é de nos mandarem emigrar. O 25 de abril continua por isso sendo uma inspiração.
Mas, externamente, também. Historicamente, e devemos orgulhar-nos disso, a terceira onda de democratização que o mundo assistiu, que ainda não possui ano de término, iniciou-se no ano de 1974, com a Revolução dos Cravos em Portugal. Em seguida, diversos países continuaram essa tendência e adotaram a democracia como regime governativo, sobretudo os países latino-americanos e africanos, recentemente o leste europeu.Quem me conhece sabe o quanto gosto de histórias. Em especial se forem simples – porque eu também sou filho de gente simples. Histórias de gente comum e sem voz. E de as contar.
O 25 de abril está cheio de nomes – aproveito para relembrar Salgueiro Maia de uma lista extensa (que terá a devida homenagem no concelho). Mas, o 25 de abril também está repleto de histórias (de entrega, altruísmo, idealismo e sobretudo coragem) e possibilidades. De sermos realistas e não nos contentarmos com menos do que o impossível ou que assim parece.
Como não precisam que vos diga o que foi e representa o 25 de abril fico-me pelas suas histórias. Algumas. Do antes e depois.
Porque o 25 de abril é nisso um enorme repositório. Algumas do conhecimento de todos outras do foro da intimidade pessoal e privadas.
De antes conto-vos a história de um homem daqueles que foi a salto, como se costumava dizer, para França em busca de liberdade e de melhores condições.
Que deixou para trás a mulher e que só dois meses depois de ela dar à luz teve conhecimento de que já era pai.
Ou, a narrativa macabra para alguns, mas que têm de escutar com a parte certa do coração, da esposa, ela própria professora numa universidade portuguesa, que acompanha o marido a Vigo para ele dar uma conferência para que foi convidado e que morre. Ela sabendo das manigâncias do Estado Novo, do viver num país, isolado, orgulhosamente só arrisca trazê-lo mesmo assim, nas vésperas de abril, morto para o seu país sem liberdade. Com a conivência de quem conduz o carro e o seu encobrimento e do filho que abraça o pai para ele passar indetectado no seu não viver na fronteira, voltando para o país que persegue, amordaça e enclausura a dissonância.
Mas há, também, as histórias do 25 de abril a decorrer e já feito.
Conto a de um amigo na altura com 11 anos, a viver em Alverca que recorda do dia estar a brincar na rua (quando ainda se brincava na rua) e a mãe o chamar para casa, para seu descontentamento, dizendo:
– Anda para casa que está a haver uma revolução em Lisboa.
Mais a conhecida história da coluna militar, a caminho da baixa lisboeta, que parou no sinal vermelho.
De aldeias perdidas no isolamento do Portugal profundo que só souberam do 25 de abril dias depois. E tantas, tantas outras… que podiam ser aqui contadas, acrescentadas e partilhadas por vós.Estamos aqui para celebrar o 25 de abril, mas penso que não será errado aproveitar a oportunidade para alertar para os perigos que assolam estes tempos e que comprometem as suas conquistas. Extremismos, nacionalismos, fundamentalismos e populismos com a demagogia dos que não tendo responsabilidade tudo conseguem, que o podem pôr em causa. Porque a história nem sempre é uma lição aprendida. A unanimidade em torno do 25 de abril que coincide a espaços em alguns discursos mais ou menos à boca pequena com o “No outro tempo é que era bom” deve ser vista com cuidado. Porque nem tudo está ainda cumprido. E numa sociedade de likes que exige ser seguida de volta todos os cuidados são poucos.
Não deixa de ser curioso que o 25 de abril tivesse ficado associado a uma flor que hoje trazemos orgulhosamente na lapela. Quase uma premonição porque embora, felizmente, haja uma unanimidade em torno do 25 de abril como sabemos nem todos os amores são sinceros. E é por isso que como uma flor que deve ser regada para não perder o viço o 25 de abril nunca estará terminado. Talvez com essa unanimidade que esperamos não ser postiça isso seja mais fácil.Muitos aí sentados têm muitas histórias para juntar às que contei e que, provavelmente, recordam com frequência. Porque o 25 de abril é, acima de tudo, uma história bonita com um final feliz. Cheia de possibilidades. Foi o dia que marcou o resto das nossas vidas.
Por exemplo, o alargamento político inclusivo dos últimos anos rompendo com a exclusividade do “agora governas tu, agora governo eu, mas sozinho e sem ouvir ninguém” cujos méritos o 25 de abril nos permite agora discordar.“Liberdade é não ter medo” dizia Nina Simone que sempre deu voz aos que sofrem. Hoje como sempre isso é inestimável. E nunca deve ficar comprometido para salvar bancos ou os interesses dos que pouco têm. Isso é honrar abril.
Desafios?
O filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau defendeu que nenhum cidadão deve ser suficientemente rico para poder comprar o pobre e ninguém deve ser tão pobre que se deixe vender ao rico. É por isso que a luta contra a desigualdade é tão importante e constante. Cabe-nos travá-la. Só assim se cumprirá o 25 de abril que nos deu a coragem e as possibilidades suficientes para o fazer.
Globalmente também temos, também, pela frente o desafio de uma planeta ecologicamente moribundo. Exangue nos seus recursos quantas vezes espoliados para benefício só de alguns. Os mais fortes. Ao contrário do 25 de abril que é de todos.
Hoje celebramos uma das mais bonitas histórias de Portugal. Quem me ensinou as primeiras letras sobre o 25 de abril, numa cartilha de liberdade, solidariedade, coragem e esperança, também me ensinou que não se deve brindar de copo vazio, quanto mais sem copo. Mas, repitam comigo com o punho erguido que mais estiver de acordo com a vossa ideologia, símbolo da resistência, no ar, porque o podem livremente fazer:
25 DE ABRIL SEMPRE!