Agenda Centro Cultural do Morgado nº11 jan-mar 22
Falando de cultura…Cultura é muita coisa. Essa é a primeira dificuldade ao construir uma agenda cultural. Conjugar toda a riqueza da sua natureza, transformando-a numa mais valia e não perdendo unidade com isso. Depois surge à cabeça uma pergunta central…O que é uma política cultural? Deve haver a preocupação de o perceber quando se agenda cultura. Esta é, todavia, uma pergunta cuja resposta divide opiniões. Não será este o espaço para responder a uma questão cuja complexidade deriva de opções, visões, prioridades e gestão orçamental. É e será sempre um domínio estratégico, sem dúvida, alavanca privilegiada do desenvolvimento local. Obriga ao envolvimento de múltiplos parceiros porque é imprescindível dar o protagonismo às pessoas. Sem complexos deve promover a valorização económica da atividade cultural. Exige-se, igualmente, imprimir um caráter transversal, desenvolvendo um trabalho em rede entre a administração central e local. O conhecimento das gentes e do lugar a que se destina, mas não ficar por aí…
Estes são os bastidores da construção de uma agenda cultural. Esta. A nossa. Parte de algumas convicções do que deve ser uma política cultural. Não é diferente das outras. Parte de uma leitura carregada de subjetividade, no que ao gosto, interesse, pertinência e valores concerne. À partida considera-se que devemos investir na cultura, democratizá-la e descentralizá-la, numa relação íntima com o território, “levando-a fora de portas”. Tornando a cultura acessível a todos. Geográfica e economicamente falando. Inclusiva, com abrangência territorial e capaz de criar novos fluxos de interesse cultural e artístico. Depois a certeza de que artistas e criadores são verdadeiros embaixadores nacionais e locais, exigindo-se que ao nível mais circunscrito se identifiquem marcas culturais, mais significativas que se manifestam na memória coletiva da comunidade. Preservando, valorizando e divulgando o património material e imaterial, dignificando autores e artistas e sendo um meio fundamental para a coesão social.
Nesta agenda não é, igualmente, despiciente a consideração do esforço que devemos, sempre, garantir para que a educação e a cultura (que devem e podem andar juntas) sejam fatores de integração social e comunitária. Que a programação cultural deverá ter, por isso, ligação com a educação uma vez que esta deverá servir para criar conhecimento. Destaca-se, ainda, nesta génese o envolvimento comunitário, de uma agenda desenhada à escala do território de Arruda dos Vinhos. Está comprometida com a terra, embora possua uma visão holística, transversal e não ensimesmada. Onde se procura ter um plano de futuro reconhecendo o passado, preservando, integrando e criando novos significados. Partindo de diagnóstico cultural, histórico e patrimonial do território. Abrangendo linguagens e discursos culturais diversificados e diferenciadores. Onde coabita o popular e o mais erudito. O urbano e o rural. Se enaltece e preserva a paisagem. Valoriza os produtos endógenos. Colocando-se como objetivo a disseminação do conhecimento produzido. Indo mais além na capacidade de atrair e criar novos públicos. Capaz de incentivar a participação social, o crescimento da massa crítica, do exercício da cidadania e de ser um agente promotor da educação em geral e a artística em particular. Enfatizando os quatro pilares fundamentais da educação: aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser.
Esta deve ser a nossa motivação no que à cultura para o nosso concelho, nos diz respeito e esta deve estar plasmada na programação facultada à população. Só assim conseguiremos o aprofundamento cultural do indivíduo, fortalecer a atratividade e o tecido cultural local e a nossa identidade. Através de um programa cultural com pertinência local, alinhado com o documento estratégico Arruda 2025 e nacional, nomeadamente para os concelhos limítrofes, que promova a sustentabilidade do nosso território, o dinamize e potencie.
Uma última palavra para a pandemia que tudo complicou e que exige uma sensibilidade para as questões de segurança mas, também, para a gestão deste novo normal onde a cultura e o seu acesso são fundamentais. Para o bem de todos. Um enquadramento que exige uma contextualização que conduza a uma perspetivação diferente do que pode e deve ser feito em termos culturais no nosso concelho. Que não exclua nem nos afaste.
A cultura é muita coisa. E uma agenda cultural deve espelhar isso mesmo. Sem entrar em descrições do que vão encontrar, será visível o envolvimento de várias entidades como coletividades, pessoas da comunidade, juntas de freguesia, associações culturais, Faculdade de Belas Artes de Lisboa, Fundação José Saramago, Europe Direct, Rota Histórica das Linhas de Torres, comunicação social e a economia local a pulsar.
Espero que ao folhearem as páginas seguintes se apercebam do que aqui fica dito. A cultura continuará, sempre, a ser aposta. O trabalho, esse, continua, tendo em vista já a próxima agenda do Centro Cultural do Morgado. Para já, aproveitem esta. O convite está feito! Iremos encontrar-nos, certamente. Desfrutem!